domingo, 22 de novembro de 2009

Um “estranho” modo de viver

Mastigava o meu sórdido e industrializado jantar quando ao ligar a televisão me deparei com uma imagem espantadora: um homem que envergava apenas uma surrada tanga manuseava dois gravetos, refestelei-me em minha cadeira e fixei olhos atentos na imagem, não podia acreditar naquilo! Um homem do século XXI tentava produzir fogo com dois singelos pedaços de madeira quais nossos ancestrais do paleolítico!
A televisão me informara que aquele homem era nosso contemporâneo e vivia no sul da áfrica e pertencia a uma tribo que é considerada um “museu vivo” pelos antropólogos...
Tomei a resolução de continuar assistindo àquele documentário dedicado a relatar o “estranho” modo de vida daquela tribo e vi coisas realmente espantosas aos olhos do homem ocidental, encarcerado no “calabouço do consumismo”, preocupado em comprar o novo objeto eletrônico que lhe é vomitado diariamente pelos veículos de comunicação... Ao observar aquele homem dito “primitivo ou pré-industrial” à busca de sua caça armado com arco e flecha, de pés no chão, usando suas próprias roupas, falando seu próprio dialeto, não pude conter o impulso de quebrar minha televisão, meu computador e tudo que indicasse resignação e conformidade com o promiscuo consumismo ocidental!Mas contive esse “nefasto” impulso e não quebrei nada, mas depois de algum tempo senti algo amargo na língua, olhei para a minha ordinária xícara made in china e percebi que já não havia sequer uma gota de café, então decidi buscar a causa daquele líquido que amargava em minha língua e toquei a minha face, dei-me conta que um líquido saia de meus olhos, constrangido, apressei-me a enxugar a face, não poderia ter dado semelhante amostra de fraqueza aos meus companheiros ocidentais!

A retina hipersensível de um viajante

Em A bagagem do viajante, José Saramago mostra toda sua sensibilidade para registrar literariamente fatos corriqueiros e “supostamente” sem importância que passam despercebidos ao olhar pragmático e materialista do homem do século XX.
Os olhos do mendigo implorando esmola, a extravagância da pequeno-burguesa que se considera o centro das atenções no restaurante, o constrangimento dos provincianos numa pastelaria chic ... Todos esses fatos aparentemente banais e desprovidos de qualquer importância foram registrados de forma poética pela genialidade do escritor português nascido na pequena aldeia de Azinhaga.
As crônicas de A bagagem do viajante se debruçam sobre vários temas como a mídia, a publicidade entrelaçada à religião, a crítica ao consumismo e aos valores da sociedade capitalista. Em o décimo terceiro apóstolo, por exemplo, o escritor diz que lhe causa engulhos ver a religião “vender detergente” e talvez a carapuça sirva aos padres” star musicians” da Igreja católica, que parecem mais interessados em vender discos do que em difundir a nobre mensagem do Cristo e aos veículos de comunicação que trajando a fétida pele de propagadores da doutrina do Cristo, oferecem livros, CDs e vários produtos aos seus seguidores (ou seria mais adequado usar a palavra clientela), oferecendo-lhes a salvação por meio da compra.
Outra crônica onde o tom irônico e amargo se sobressai é em Um braço no prato. Nesse texto Saramago critica a “pose” pequeno-burguesa através de uma estória cujo eixo é a observação (do autor-narrador) da chegada de um belo casal pequeno-burguês em um restaurante.
Em três cavaleiros a pé, Saramago alcança um ápice de sutileza poética mesclada à crítica amarga ao mostrar a chegada de três provincianos numa pastelaria de Lisboa, e o notório constrangimento daqueles cavaleiros “sem cavalo” por estarem num ambiente ao qual não se consideravam dignos de freqüentar. No desenlace da estória, os três homens envergonhados tomaram a prudente resolução de se retirar da pastelaria...

sábado, 7 de novembro de 2009

A senhorita do aeroporto na província dos caranguejos

A república dos paletós intocáveis tem sido farta em casos de “racismo” desde que a escravidão foi generosamente abolida pela princesa Isabel.
Acho que me expressei mal ao leitor nas linhas anteriores, pois a nação de que vos falo não tem sido farta em casos de racismo, pois foi essa nação construída sobre os alicerces dessa grande instituição.
Mas quero avisar ao leitor que o texto acima deve ser considerado um breve prefácio, pois quero vos contar um estranho acontecimento da república dos paletós intocáveis, uma sociedade ideal, na qual encontrei grandes semelhanças com aquela descrita por Thomas Morus em a utopia.
O caso ocorreu na província dos caranguejos e se passou da seguinte forma: uma mulher de classe média e nem preciso vos dizer que era loira , bela e de lindos cabelos corrediços chegou ao aeroporto e descobriu que seu vôo tinha partido antes da sua ilustre e majestosa chegada .
Sabeis que as pessoas de classe média são feitos de uma substância especial e conhecem todas os detalhes da rica arte da etiqueta, sabem de que lado do prato deve ser colocado o garfo e a faca , como se deve levar a taça de vinho à boca e tantas outras coisas sem as quais a civilitè humana deixaria de existir .
Mas a digníssima senhorita do aeroporto nos desapontou e mostrou que a esmerada educação que recebeu freqüentando as aristocráticas escolas da pequena província dos caranguejos foi insuficiente para conter seus instintos mais primitivos. Ao gritar “seu nego” a nobilíssima senhorita do aeroporto não exprimiu apenas seu sentimento de raiva, ela assumiu o que todos os habitantes da república dos paletós intocáveis procuram educadamente esconder e devíamos dedicar pelos menos cinco minutos de aplausos por essa grande amostra de sinceridade!
O leitor da república dos paletós intocáveis certamente ficará atabalhoado diante desse acontecimento que acabei de vos contar, pois ele tem plena certeza que vive numa sociedade exemplarmente democrática, onde diferentes culturas convivem pacificamente...
A sociedade de “bugres” massacrados, “negos” escravos e brancos nas gordas sinecuras do estado! ... Eis ai uma democracia exemplar!

sábado, 3 de outubro de 2009

Hai cai da crueldade humana

Amo as lágrimas , o sangue e os excrementos pútridos da humanidade
Os gemidos metálicos dos hímens violados nos campos de batalha
não produzem em meu espírito nenhuma consternação
O sangue do oriente respinga em minha face e estoicamente detenho-me a limpar as manchas
isto parece indiferença , mas é crença , da descrença na bondade humana!

O trono do senhor de bigode

Estava refestelado em minha poltrona quando tomei conhecimento das novas trapalhadas da câmara alta na república dos paletós intocáveis . Ouvi dizer que além do trono presidencial , há um outro , menor em importância mas igualmente rendoso onde se sentam os coronéis da região dos pigmeus comedores de palma . Esse “ segundo trono” da emergente federação cavadora de poços de óleo é ocupado pelo senhor de bigode . Contar-vos-ei algumas estórias sobre esse ilustre republicano de nosso tempo .
Podemos dizer que o digníssimo senhor de bigode representa com grande brilho os dois mais sórdidos arquétipos da política dos paletós intocáveis , o de autêntico couroneles da província das casas velhas e o de empresário político . O couroneles é uma figura recorrente em todas as províncias da região dos pigmeus comedores de palma e tudo que há na provincia de um couroneles pertence a ele , até a ínfima moeda perdida na lamaçal é sua propriedade . Mas é um senhor feudal bonachão e age como um pai distribuindo emprego a seus súditos e vassalos . O segundo tipo sórdido da política da federação dos poços de óleo é o empresário político , aquele que é político por profissão , o famigerado fazedor de fortuna , aquele que em nenhum momento pensa em realizar o bem geral da nação , o guardador de tesouro ... Além de carregar esses honrosos distintivos de estadista , tem-se na conta de intelectual e ao publicar seu primeiro livro assumiu sua cadeira na Academia das letras dos paletós intocáveis . Na província das casas velhas só não é rei por falta da coroa , pois todos os aspectos autoritários de uma figura monárquica nunca lhe faltaram . Como atual proprietário do “segundo trono” , o senhor de bigode tem feito grandes avanços na história republicana dos paletós intocáveis , distribuindo cargos aos membros de seu clã , recebendo auxílio-moradia indevidamente , e praticando outros atos de licitude questionável .
Mas não vos esqueçais que na república dos paletós intocáveis os casos de ladroagem tornam-se motivo de gracejos e logo depois se segue a típica indiferença do povo dessa grandiosa república pela arte da política .
Assim o senhor de bigode tem plena certeza que não precisará abdicar do trono , pois seus vassalos e servos estão dispostos a consumir todas as suas energias para garantir o respeito a constituição da nação .
Talvez o dono do “segundo trono” não seja mesmo um escritor dotado de grandes capacidades literárias ou um estadista de invejável oratória e loquacidade , mas o atributo essencial do político da câmara alta nunca irá lhe faltar : a hipocrisia !

um submarino na república dos paletós intocáveis

Um submarino nuclear na república dos paletós intocáveis



Ao encetar conversação com um ilustre nativo da magnífica democracia sul-americana , tomei conhecimento de que a atabalhoada federação tropical tenciona entrar com algum retardo na corrida armamentista ocidental . A grande nação dos tupis se mancomunou com a república das três cores e deseja estar bem equipada para realizar a nobre tarefa de proteger o óleo recém-descoberto nas profundezas das águas e os fragmentos de floresta da região dos troncos pingadores de borracha .
A república das três cores venderá uma imensa parafernália bélica para os paletós intocáveis , e segundo o modesto Luis XIV que governa a nação , as armas servirão para assegurar a soberania de um pais que tem recursos naturais a proteger .
Mas o que mais me surpreendeu nesse surto militarista de uma nação tradicionalmente tida na conta de pacifica foi o seu atrevimento! A república dos paletós intocáveis pretende enfrentar os perigos do atlântico com um submarino nuclear , tendo plena certeza de que estando tão bem armada poderá até mesmo destruir a inexpugnável frota da américa de paletó . O duende barbudo avaliando sua pequena estatura e grande popularidade , já se olha ao espelho imaginando-se um Hitler a meio caminho e acredita ferrenhamente estar conduzindo a gloriosa democracia a um projeto imperialista exitoso . . Já nos é possível antever a destruição de uma poderosa frota de algum dos paises fazedores de neve pelo indestrutível submarino da república dos paletós intocáveis , os minguados caças rafale sobrevoando territórios conquistados e o duende barbudo discursando a favor da guerra ...
Certamente dentro de um ou mais séculos esse republica será respeitada pelas suas armas , mas por enquanto é preciso apenas se preocupar em formar hábeis diplomatas ...

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Nosso pai reza o pai-nosso

Pai nosso que estais no céu
Santificado seja o ...
Acabaste de matar um homem e pretendes santificar o meu nome?!
O vosso nome , venha a nós
O vosso ...
Queres viver no meu reino , bárbaro portador da funesta lâmina?!
Seja feita a vossa vontade , assim na ...
Então achais que minha vontade é sorver o sangue desse cruento holocausto?
O pão nosso de cada dia nos daí ...
Ganharás o teu pão com o suor do teu rosto !
Perdoai as nossas ofensas , assim como ...
Pregaram-me na cruz e isso não vos basta !
Não nos deixei cair em tentação ...
Aquele que quiser me seguir , tome a sua cruz e siga-me!
E livrai-nos do mal ...
Dei-vos o livre-arbítrio , a fim de que escolhais de que lado quereis ficar , não vos posso livrar de nada , escolhe cada um o teu caminho !
Amém ...
Assim seja!